Eu tive a pior mãe do mundo. Enquanto outras crianças podiam comer doces no desjejum, eu precisava comer mingau e pão com manteiga. Meus amiguinhos tinham coca-cola e balas no almoço, mas eu tinha de comer arroz com feijão. Como você pode adivinhar, meu jantar também era diferente daquele com que os outros meninos se deliciavam.
Mas pelo menos, eu não sofria só. Minha irmã e nossos dois irmãos tinham a mesma mãe tirana que eu.
Mamãe insistia em saber exatamente onde estávamos, em qualquer hora. Podia-se pensar que éramos alguma espécie de criminosos. Ela fazia questão de saber com quem andávamos e o que fazíamos. E insistia que, se dissemos que íamos sair por uma hora, tínhamos de voltar dentro de uma hora, ou antes. Não podia ser uma hora e mais uns minutinhos.
Quase tenho vergonha de contá-lo, mas ela até batia em nós. E não o fazia apenas uma vez, mas todas as vezes que saíamos da linha. Você pode imaginar, alguém chegar ao ponto de dar palmadas numa criança, somente porque desobedeceu? Agora você está começando a entender quão cruel ela era realmente.
E ainda não contei o pior. Todas as noites, às nove horas, já devíamos estar na cama. E no dia seguinte, estar em pé, bem cedo. Mesmo nas férias, não podíamos dormir até o meio-dia, como faziam nossos amigos. Ah, não! Enquanto eles descansavam à vontade no conforto de sua cama, nós éramos forçados a trabalhar – lavando louça, forrando a cama, aprendendo a cozinhar e outras coisas ruins. Desconfiávamos que ela ficava acordada à noite, procurando pensar em outras coisas piores para exigir de nós.
Mamãe sempre insistia par que falássemos a verdade, toda a verdade e nada de mentiras – mesmo se isto custasse a vida, como quase sempre acontecia...
E ao chegarmos à adolescência, mamãe, já estava com mais prática, e nossa vida se tornou quase insuportável. Nada de um namorado chegar à frente da casa e chamar-nos com uma buzinada. Ficávamos até envergonhadas com a sua insistência de que os namorados e amigos tinham de vir à porta nos buscar. Ah! Quase me esqueci de contar que, enquanto outros estavam namorando na idade “amadurecida” de doze ou treze anos, minha mãe “quadrada” não me deixou namorar antes dos quinze ou dezesseis. Quinze, isto é, quando se tratava de uma festa na igreja ou na escola, o que acontecia duas ou três vezes ao ano.
Minha mãe foi realmente um fracasso. Nenhum de seus filhos jamais foi apreendido pela polícia ou divorciado; nenhum deles costuma bater em sua esposa. Cada um dos dois filhos homens prestou seu tempo de serviço no exército. E quem poderemos responsabilizar por sairmos desse jeito? Exatamente, minha mãe.
Pense só nas coisas que perdemos. Nunca tivemos a experiência de marchar numa demonstração contra o governo; jamais quebramos móveis de nossa universidade, nem incendiamos automóveis. Além de outras mil coisas que alguns de nossos colegas faziam.
Mamãe nos forçou a nos tornarmos adultos instruídos, honestos e tementes a Deus. Agora com a própria experiência como base, estou procurando criar meus filhos. Eu não me preocupo quando me acusam de ser cruel. Até fico contente com essa opinião.
Porque, como está percebendo, dou graças a Deus que Ele me deu “a pior mãe do mundo”.
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